O ceratocone é uma doença progressiva da córnea que, segundo a literatura médica clássica, atinge uma a cada 2.000 pessoas. Embora pareça rara, há estudos que indicam que este número pode ser até 100¹ vezes maior. Este aumento pode estar relacionado a fatores ambientais, mas ocorre, principalmente, em função de avanços no diagnóstico de casos ainda em fase inicial.
O ceratocone, que possui origem hereditária, ocorre em consequência de uma perda da capacidade estrutural da córnea manter sua forma regular ao sofrer alterações na resistência e elasticidade, resultando no afinamento e aumento da curvatura em formato aproximado de um cone. A doença se apresenta frequentemente em adolescentes e jovens adultos, com progressão ao longo dos anos, causando astigmatismo irregular (com distorção das imagens), que limitam a correção deste distúrbio visual com uso de óculos tradicionais.
O oftalmologista Prof. Renato Ambrósio Jr. (CRM-RJ 52.62107-2) explica que o hábito de coçar os olhos colabora para a origem e progressão do ceratocone: “Coçar e esfregar os olhos é um péssimo hábito e deve ser evitado, porque danifica a estrutura dos olhos. Isso é ainda pior para quem já tem o ceratocone ou apresenta predisposição para a doença, pois a córnea já está fragilizada”. O médico contextualiza que esse mau hábito soma-se a condição genética do paciente, sendo o fator que mais agrava o problema.
Para disseminar a relevância desse tema, o Dr. Renato criou a campanha educativa Violet June. Iniciada em junho e com término previsto para novembro de 2018, a iniciativa traz diversas ações em todo o Brasil: “Nós criamos esta campanha para orientar a população leiga sobre a doença, os avanços no seu diagnóstico e a importância do acompanhamento e tratamento. Destacamos o quão nocivo é o hábito de esfregar os olhos, o que é consenso entre especialistas de acordo com o painel global de 2015 e esperamos estimular a consciência para que a população busque ajuda médica e siga o tratamento de forma correta. A orientação para não coçar os olhos e a intervenção em fases menos avançadas podem mudar o curso da doença e o seu prognóstico”, conta o professor, Renato Ambrósio Jr.
Para tratamento do ceratocone existem diferentes alternativas de acordo com os estágios da doença. Quando no início, ainda é possível prescrever óculos para correção visual, já em fases mais avançadas, as lentes de contato são indicadas para corrigir apenas os distúrbios visuais ocasionados pela deformidade da córnea.
Conforme a necessidade de cada paciente, a indicação cirúrgica também é uma opção. “Enquanto o transplante de córnea seria a única opção de cirurgia para os estágios mais avançados de ceratocone até meados dos anos 90, o advento de novos procedimentos cirúrgicos como o implante de anel e o crosslinking determinou uma verdadeira quebra de paradigma. Por outro lado, a questão paradoxal é que se não é preciso, não se deve indicar a cirurgia, mas se estiver indicada, fazer o quanto antes. A última indicação seria o transplante de córnea².” Conclui o Prof. Renato, Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais realize qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.
Referências
¹ Torres Netto EA, Al-Otaibi WM, Hafezi NL, et al. Prevalence of keratoconus in paediatric patients in Riyadh, Saudi Arabia. Br J Ophthalmol. 2018.
² Ambrósio R Jr, Faria-Correia F, Silva-Lopes Í, Azevedo-Wagner A, Tanos FW, Lopes B, Salomão M. Paradigms, Paradoxes, and Controversies on Keratoconus and Corneal Ectatic Diseases. Int J Kerat Ect Cor Dis 2018;7(1):35-49.